‘Ações intersetoriais contra a dengue são imprescindíveis’, avalia especialista da Comissão Saúde Pública AML

Saúde divulga 3° LIRAa de 2023, que aponta que a maioria dos criadouros do Aedes aegypti em Londrina estão nas residências

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Secretário Felippe Machado, apresentando o terceiro  LIRAa 2023 – Foto:  Vivian Honorato/N.Com

Em mais uma reunião realizada no auditório da Associação Médica de Londrina (AML), o secretário de Saúde de Londrina, Felippe Machado, apresentou, na manhã desta sexta-feira, 21 de julho, o resultado do 3º Levantamento Rápido de Infestação do Aedes aegypti (LIRAa) de 2023.

Conforme os dados, o Índice de Infestação Vetorial Predial (IIVP) foi de 1,32%, o que coloca o município em situação de alerta conforme classificação do Ministério da Saúde. Este índice demonstra que a cada 100 imóveis inspecionados, mais de um estava com focos positivos do mosquito da dengue, o Aedes aegypti.

O 2º LIRAa de 2023, que seria realizado em abril, foi cancelado pela Secretária Municial de Saúde para não interromper as ações de bloqueios de transmissão viral, por conta do aumento dos casos de dengue  na cidade. O 1º LIRAa do ano, divulgado em janeiro, havia apontado índice de infestação de 5,50% no município.

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Participaram da reunião representantes de unidades de saúde e da sociedade civil organizada/Vivian Honorato-N.Com

O novo levantamento foi realizado de 10 a 15 de julho em 9,5 mil imóveis residenciais e comerciais, além de construções e terrenos baldios, de 260 localidades da zona urbana. A pesquisa apontou que 100% dos criadouros, com larvas e pupas de Aedes aegypti, foram encontrados em residências, sendo 84% em objetos em desuso jogados nos quintais, vasos de plantas e água de chuva armazenada e 16% em objetos dentro das casas.

O LIRAa é um método simplificado que permite identificar como está a infestação e distribuição do vetor Aedes aegypti no município. Trata-se de um trabalho de amostragem, que possibilita identificar os bairros mais críticos e quais depósitos (de focos) são predominantes na área.

Para o secretário Felippe Machado, a queda do índice do LIRAa era esperada por conta do frio e das ações de combate ao mosquito realizadas pela Prefeitura, que incluem mutirões e a intensificação das agendas dos agentes de endemias em campo, além do uso de bomba costal nos lugares de maior incidência e ações educativas.

“Podemos observar que estas atividades causaram uma repercussão positiva, pois o índice deste LIRAa foi bem diferente do primeiro, que apontou mais de 5%”, enfatiza Machado.

Ações intersetoriais são imprescindíveis

A médica associada Dra Josemari Sawczuck de Arruda Campos, integrante da Comissão de Saúde Pública da AML, representou a entidade médica na reunião. Segundo ela, são muitos os fatores que interferem no controle do mosquito. “É uma tarefa muito difícil e ficou evidente que a Secretaria Municipal de Saúde está fazendo aquilo que é possível fazer diante dos recursos disponíveis. Então, nós temos que abrir uma frente de trabalho ampla da sociedade para o controle de dengue porque há muitos aspectos que são envolvidos”, diz a Dra Josemari.

Segundo ela, Londrina “é uma cidade multifacetada, com infraestrutura urbana precária e pessoas vivendo em situações de risco, com baixa qualificação para o trabalho e baixa escolaridade, e por isso o controle de dengue na cidade é muito desafiador, diferentemente de outras cidades que são mais homogêneas”.

Ela explica que a dengue é uma doença com um espectro de sintomatologia muito variável e, conforme a cepa, há o predomínio das formas assintomáticas ou com poucos sinais de sintomas. “A confirmação dos casos é para as formas sintomáticas: aquela pessoa que adoece, tem febre, fica indisposta, que, muitas vezes, precisa de atestado para o trabalho ou para a escola e que procura o serviço de saúde ou, também, em decorrência do agravamento.”

Dra Josemari ressalta, no entanto, que o doente que apresenta menos sintomas também está transmitindo a infecção, assim como quem está sem sinal algum da doença, contribuindo para o círculo pernicioso da dengue.

“Diante do número de casos confirmados até o momento, nós temos que multiplicar por, no mínimo, cinco para ter o número que possivelmente ocorreu de fato, o que vai nos levar a uma soma bastante assustadora, de cerca de 170 mil casos, que equivale a perto de 35 % da população de londrinenses”, alerta a especialista, reforçando o estado de alerta.

“Se nós quisermos fazer ações efetivas, nós temos que compreender como é que acontece a infestação nos bairros de maior presença do mosquito para traçarmos ações que sejam particularizadas para aquela demanda”, propõe a médica, destacando que ações intersetoriais contínuas são imprescindíveis, em especial, a educação ambiental. A especialista avalia que a participação da sociedade na discussão de políticas de combate à dengue ainda é pequena e que é preciso mudar a forma de falar sobre a doença ao buscar o engajamento da população. “Eu acho que tem que fazer uma releitura, ver o que pode impactar mais, para as pessoas efetivamente pensarem na questão do risco, que é verdadeiro. Só não aconteceram mais mortes por dengue hemorrágica porque a assistência dos serviços em saúde evoluiu muito em Londrina”, conclui.

Números da dengue

Entre todas as regiões da cidade, a Leste foi a que apresentou maior concentração de focos positivos, chegando a 1,87% dos imóveis com larvas do mosquito. Em seguida, Zona Norte, com 1,55%, Zona Sul, com 1,29%, Centro, com 0,91% e, por último, a Zona Oeste, com 0,79% de infestação.

O levantamento também apontou os dez bairros londrinenses que mais preocupam a Secretaria de Saúde devido aos altos índices de Aedes aegypti. São eles:

Jatobá (Sul): 13,33%

Alexandre Urbanas (Leste): 9,92%

Roseira (Sul): 8,33%

Adriana (Sul): 8,33%

Nossa Senhora Aparecida (Norte): 8,11%

Abussafe (Leste): 7,89%

Novo Amparo (Leste): 7,69%

Paulista (Centro): 6,9%

Porto Seguro (Norte): 6,9%

Quadra Norte (Norte): 6,67%

Felippe Machado informa que todas as localidades que apresentaram números discrepantes em relação às demais, como o caso do bairro Jatobá, estão recebendo ações de combate, como mutirões, atividades de limpeza, que envolvem, também, descartes irregulares, além de ações de conscientização junto à comunidade em pareceria com os conselhos locais e escolas.

“O fato de os focos estarem dentro das residências, do portão para dentro, nos chama atenção de forma reincidente. Toda a população precisa fazer a sua parte, não deixando água parada, mesmo no inverno, para que consigamos chegar no verão sem o risco de uma nova epidemia de dengue.”

“Vimos o quanto é sofrido uma epidemia, sofremos com isso por vários meses, tivemos que reestruturar a rede de saúde do município, destinar unidade exclusivas para atender os casos de dengue e, infelizmente, registramos 29 óbitos. Ações simples, de cada cidadão, têm um poder muito grande para evitar uma nova epidemia”, frisa Machado.

Do início do ano até o momento, foram notificados 60.181 casos suspeitos de dengue, dos quais 33.230 foram confirmados, 11.444 descartados, 15.507 estão em análise aguardando o resultado de exames laboratoriais. Também houve 29 mortes em decorrência da doença.

Além do secretário municipal de Saúde, a apresentação do LIRAa contou com a colaboração do coordenador de Endemias, Nino Ribas, e da diretora de Vigilância em Saúde, Fernanda Fabrin. Estiveram presentes diversos representantes de unidades de saúde e da sociedade civil organizada.

Disque-Dengue

A população pode fazer denúncias de imóveis ou áreas suspeitas de terem focos do mosquito Aedes aegypti, entre os quais terrenos baldios ou ambientes que possam facilitar a proliferação do vetor.O contato pode ser feito pelo telefone 0800-400-1893, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.

Quando o munícipe é notificado como estando com suspeita de arboviroses, as equipes da Endemias realizam os bloqueios dos casos dentro de 48 horas.

comunica.aml@aml.com.br
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