Também conhecida como “tosse comprida”, a coqueluche é uma doença infecciosa aguda respiratória contagiosa que provoca crises de tosses que podem durar até oito semanas
Coqueluche foi a causa da morte de um bebê de 6 meses em Londrina, no último dia 25 de julho. Este foi o primeiro óbito causado pela coqueluche no país em três anos. O Paraná também investiga se a morte de um bebê de 3 meses, em Irati, no sudeste do Estado, pode ser atribuída à doença.
A coqueluche costuma ser mais grave em bebês e a melhor forma de proteção é a vacinação. “A vacina, disponível gratuitamente em todos os postos de saúde do país, é dada em cinco doses, aos dois, quatro e seis meses, com um reforço aos 15 meses e outro aos quatro anos. Grávidas também devem ser imunizadas”, informa a a pediatra Dra. Najat Nabut, secretária geral e diretora do Departamento de Pediatria da AML.
Até a primeira quinzena de junho, o Estado tinha registrado 24 casos de coqueluche. Em todo o ano passado, foram 17. No Brasil, o último pico epidêmico aconteceu em 2014, quando foram confirmados 8.614 casos.
O país e o mundo enfrentam aumento de casos. Pelo menos 17 países da União Europeia registram aumento de casos de coqueluche. Entre janeiro e dezembro do ano passado, foram notificadas 25.130 ocorrências no continente. Já entre janeiro e março deste ano, 32.037 casos foram registrados na região em diversos grupos etários, com maior incidência entre menores de 1 ano, seguidos pelos grupos de 5 a 9 anos e de 1 a 4 anos.
O que é coqueluche?
Também conhecida como “tosse comprida”, a coqueluche é uma doença infecciosa aguda respiratória altamente contagiosa, causada pela bactéria Bordetella Pertussis. A transmissão ocorre, principalmente, pelo contato direto do doente com uma pessoa não vacinada, por meio de gotículas eliminadas por tosse, espirro ou até mesmo ao falar.
“A coqueluche evolui em três fases sucessivas de sintomas. A primeira fase é a catarral, que se inicia com manifestações respiratórias e sintomas leves, que duram de uma a duas semanas”, diz a Dra. Najat Nabut.
Segundo ela, a segunda fase é a paroxística. “Nela ocorre a instalação progressiva de tosse em surtos, até uma crise de paroxismo, que varia de duas até seis semanas. Após isso, temos a fase de convalescência, que pode durar de duas a seis semanas. Os sintomas diminuem gradualmente e as crises de tosse são substituídas por episódios de tosse comum”, completa a médica.
Estágios da coqueluche
Ainda conforme a pediatra, enquanto a fase catarral é semelhante a um resfriado comum, caracterizada por tosse leve, espirros, coriza e, em alguns casos, febre baixa, ela é diferente de uma infecção de via aérea superior de etiologia viral. “A tosse, na coqueluche, vai aumentando gradualmente ao invés de melhorar, e a coriza permanece aquosa. Essa fase catarral geralmente dura de uma a duas semanas.”
A segunda fase, que é a fase paroxística, é a fase mais característica da doença. “Pela tosse ser intensa, em crises, súbita, incontrolável, com uma série de tossidas rápidas e curtas”, descreve a Dra. Najat.
“Geralmente essas tossidas são seguidas por um som inspiratório de guincho devido à inspiração rápida e forçada que ocorre com a glote, que fica parcialmente fechada”, explica a médica, reforçando que os vômitos pós-tosse são frequentes. “A criança pode se engasgar, desenvolver cianose ou ficar com o rosto muito vermelho e parecer estar lutando para respirar. E as complicações ocorrem mais frequentemente nessa fase, que pode durar de duas a oito semanas.”
A terceira fase da coqueluche é a fase de convalescente. “Durante o estágio de convalescença, a tosse vai diminuindo ao longo de várias semanas e até meses. E uma observação é que a tosse episódica pode recidivar ou piorar durante a convalescência, com infecções sobrepostas do trato respiratório superior.”
Tratamento
O tratamento de um paciente com coqueluche é sustentado em três pilares: cuidados de suporte, manejo da tosse e terapia com antimicrobianos. “Por se tratar de uma bactéria, o tratamento é feito com o uso de antibióticos, que podem ser encontrados com facilidade e devem ser prescritos por um médico, conforme cada caso”, descreve a Dra. Najat.
Os cuidados de suporte são a base do manejo da coqueluche e podem incluir, inclusive, internação hospitalar, para fazer um monitoramento rigoroso do padrão respiratório do paciente e mantê-lo com um bom suporte hídrico e um bom suporte nutricional.
“A hospitalização deve ser considerada naqueles pacientes com maior risco de complicações de mortalidade, principalmente os lactentes com menos de seis meses de idade e os pacientes com sinais de comprometimento cardíaco ou respiratório, como apneia, cianose, pacientes com doenças respiratórias prévias e também sinais de outras complicações, como desidratação, pneumonia ou complicações neurológicas”, cita a Dra. Najat Nabut.
Ela destaca que o segundo pilar do tratamento da coqueluche é o manejo da tosse. “A tosse paroxística da coqueluche pode ser grave e prolongada. Existem alguns gatilhos conhecidos para o paroxismo da tosse. Exercícios e temperaturas frias devem ser evitados sempre que possível.”
Vale ressaltar que não há evidências de terapia eficaz para a tosse relacionada à coqueluche. “Tratamento com corticosteroides, anti-histamínicos, agentes antitussígenos e broncodilatadores não se mostraram benéficos em pacientes com coqueluche e, em geral, os riscos dessas terapias superam os benefícios”, alerta a pediatra associada da AML.
Esquema vacinal
Embora pessoas de todas as faixas etárias possam contrair a coqueluche, a doença pode se apresentar de forma mais grave e com maior risco de complicações na faixa etária de bebês menores de 6 meses e que ainda não completaram seu esquema vacinal inicial.
“Quando o adulto e o adolescente pegam a coqueluche, acabam apenas apresentando uma tosse comprida, que dificilmente evolui para a forma grave”, explica a Dra. Najat Nabut.
Ela alerta que a melhor forma de prevenção contra a coqueluche é a vacinação e reforça que a vacina protege não só o indivíduo, mas também a coletividade, pois atua reduzindo a transmissão da bactéria no ambiente. “Por isso, é fundamental imunizar o maior número possível de pessoas. E cabe aqui ressaltar que temos no Brasil várias vacinas que oferecem proteção contra coqueluche, todas muito eficazes.”
Doenças como sarampo, poliomielite, difteria e tétano podem voltar a circular no Brasil caso a cobertura vacinal, sobretudo entre crianças, não aumente. “Essas são doenças já erradicadas no Brasil e, infelizmente, voltaram a ser motivo de preocupação entre as autoridades sanitárias e entre os profissionais de saúde. Essas baixas coberturas vacinais, de acordo com o próprio Ministério da Saúde, acendem uma luz vermelha no país e geram uma grande preocupação entre nós”, comenta a Dra. Najat.
Segundo ela, se as pessoas deixarem de se vacinar, ficarão expostas às doenças. “A tríplice viral foi implantada no país gradativamente na década de 1990, entre crianças de 0 até 11 anos. Por isso que pessoas com até 30 anos não chegaram nem a conhecer tais doenças”, relembra a médica, recordando, ainda, que em 2018, a meta de imunização era de 95%, mas na maior parte do Brasil não chegou até 76%.
“Nós sabemos que com a correria das nossas atividades diárias, algumas obrigações acabam passando despercebidas. Isso pode acontecer, inclusive com as vacinas. Mas lembre-se de colocar a saúde da sua família em primeiro lugar.”
Por Comunicação AML – Infinita Escrita
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