Cresce infecção por HIV entre adolescentes também no Paraná

Autoridades da área de saúde do mundo todo estão preocupados com o avanço dos casos de contaminação por HIV entre adolescentes. A realidade entre jovens é bem diferente do que acontece entre os adultos, faixa etária que apresenta redução da presença do vírus que causa a Aids. E a preocupação é ainda maior entre o público feminino: a cada três minutos, uma adolescente entre 15 e 19 anos é infectada pelo vírus HIV. O alerta foi feito pela Unicef, durante a 22ª Conferência Internacional de Aids, realizada em Amsterdã, em meados de julho passado (2018).
Na conferência, foram apresentados indicadores que atestam que as meninas desta faixa etária são vítimas de dois terços das infecções em todo o mundo. Em 2017, 430 mil pessoas no planeta com idade inferior a 20 anos foram contaminadas pelo HIV enquanto outras 130 mil morreram de causas relacionadas à Aids. Nessa parcela da população mundial, as mortes estão estagnadas, mas em outras faixas etárias, observa-se uma redução gradual nos óbitos desde 2010. No Brasil e no Paraná a situação se repete.

A evolução no tratamento contra o HIV reduziu sua mortalidade. Mas não se pode baixar a guarda. A Aids continua sendo uma doença muito grave e as consequências da infecção são a principal causa de morte entre seus portadores. Esse novo cenário que aponta grande risco para os jovens mostra que os órgãos de saúde pública têm urgência em elaborar estratégias para reverter os dados apresentados pela Unicef.
Segundo a organização, vários fatores contribuem para o crescimento do número de jovens portadores de HIV. Entre eles, as relações sexuais precoces, a pobreza e a falta de acesso a serviços de aconselhamento e exames. A prevenção ainda é a melhor estratégia, assim como o preconceito é o grande vilão no combate à Aids. Ninguém deve ter receio em fazer os testes que detectam o HIV para, em caso de resultado positivo, começar rapidamente o tratamento. Fugir do diagnóstico é a pior atitude.

BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO
No Brasil, a alta incidência do vírus HIV entre os jovens também é uma realidade. Dados do Boletim Epidemiológico de Aids 2016, elaborado pelo Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, mostram que, de janeiro de 2007 até 30 de junho de 2016, 7.673 pessoas entre 15 e 19 anos de idade foram contaminadas, com uma escalada, ano a ano, do número de infectados pelo vírus da Aids. Em 2007, foram computados 267 novos casos nessa parcela da população, atingindo o pico de 1.956 em 2015, indicando alta de 632% em menos de dez anos. Em 2016, até junho, haviam sido notificados 703 novos casos de adolescentes soropositivos.

No Paraná, a contaminação de pessoas na faixa dos 15 aos 19 anos também é uma preocupação para os profissionais da área de saúde pública. Oito por cento dos casos de Aids no Estado estão nessa parcela da população, segundo o chefe da Divisão Estadual de Controle das Doenças Sexualmente Transmissíveis, Aids, Hepatites Virais e Tuberculose da Sesa (Secretaria Estadual de Saúde), Francisco dos Santos. “Sem distinção entre os sexos, essa faixa etária é a mais preocupante”, diz.

Desde 2007, 1.046 meninos e meninas paranaenses de 15 a 19 anos de idade contaminaram-se com o HIV e, dentre eles, mais de 60% eram do sexo feminino. “Elas querem mostrar para os meninos que os amam e, para provar, têm relação sexual sem preservativo. É muito comum também usarem preservativo na primeira relação e, da segunda em diante, não usarem mais. Muitas das pessoas com HIV e Aids não sabem seu estado sorológico. Nas campanhas, temos pegado muita gente nova que nem sabia que tinha o vírus”, alertou Santos.

A Sesa sabe que 99% das infecções por HIV ocorrem por via sexual, independentemente da idade, mas entre os adolescentes, acredita Santos, a falta de preocupação com o HIV e a Aids é resultado do desconhecimento em relação às complicações da doença. “A geração anterior viu a morte do Freddie Mercury e do Cazuza (cantores), mas o que os jovens de agora conhecem sobre Aids é o que é passado na escola, na televisão, que não é sinônimo de morte”, destacou.

Apesar de constatar a falta de cuidados de adolescentes e jovens com o HIV e a aids, Santos admite não saber de que forma a Sesa poderia enfrentar o problema. “Não sei mais o que se pode fazer ou falar na questão do HIV para introjetar mais a questão do adolescente na prevenção. Existem propagandas voltadas aos adolescentes, não temos falta de preservativos, masculino e feminino. Talvez a comunicação seja um pouco antiquada. Talvez tenhamos que fazer um projeto para ver como trabalhar com os adolescentes para aderirem ao preservativo em todas as relações sexuais”, avalia.

 Fonte: Folha de Londrina – Dias 30 e 31 de julho de 2018
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