Estudo sobre TVC da Liga Acadêmica de Neurologia de Londrina ganha publicação internacional

Vinculada à PUCPR, e fundada em 2012 para promover o conhecimento das áreas de neurologia clínica e cirúrgica, a LANNCiLo reúne estudantes de medicina das duas escolas médicas de Londrina – UEL e PUCLON

Coordenada por dois médicos especialistas associados AML e docentes da PUC Londrina, Dr. Carlos Zicarelli (neurocirurgia) e Dr. Leonardo Camargo (neurologia), a Liga Acadêmica de Neurologia de Londrina vai além do tripé que fundamenta a formação universitária: ensino, pesquisa e extensão. Criada em 2012, e mesmo que sua vinculação esteja diretamente ligada à estrutura da PUCPR, a Lanncilo somou outro importante elo para fortalecer a base deste grupo de estudos: a integração dos estudantes de medicina da PUC e da UEL para promover o aperfeiçoamento do conhecimento científico na área.

E o resultado positivo aparece na intensa produção de pesquisas e artigos, no volume de trabalhos selecionados para apresentação em eventos científicos estaduais e de âmbito nacional da especialidade médica, assim como na publicação destes feitos. “Nosso objetivo, que é o comum a qualquer Liga Acadêmica, foi potencializado com a união das faculdades para a produção de trabalhos de iniciação científica, discussões dos mais variados temas ligados à área vinculada – no nosso caso a neurologia. Essa interlocução entre colegas de diferentes escolas promove ainda mais o aprendizado extracurricular, a troca de ideias e de conhecimento com docentes e outros médicos especialistas”, diz o estudante Rafael Rodrigues Pinheiro dos Santos, presidente da Lanncilo e também acadêmico associado AML.

Segundo ele, desde sua fundação, a liga marcou presença em diversos eventos científicos, citando que só nestes últimos anos, por exemplo, mais de 10 trabalhos foram apresentados no COPAN- 1º Congresso Paranaense de Avanços em Neurocirurgia, realizado em 2018, outros selecionados para a exposição de pôsteres do I Congresso PUC Health-Tech (2019) e, mais recente, a exibição de três trabalhos no XIII Congresso Paulista de Neurologia, realizado em maio de 2021.
“Além das apresentações em congressos, buscamos também a publicações de nossos trabalhos. Nesse sentido, recentemente, conquistamos uma boa publicação em uma revista internacional”, comenta Rafael, referindo-se ao artigo de revisão de literatura intitulado “Cerebral venous thrombosis and Covid 19: Literature review”, publicado na edição de 28 de abril último no Jornal of Neurology & Stroke. “A revisão foi realizada nas bases de dados PubMed e Embase, e incluiu 77 artigos” completa. Foram autores do artigo, os alunos Jonathan V. Martins, Wesley V. Doni, Rafael R. Santos e Ana C. Rampazzo, com orientação do Dr. Carlos Zicarelli, e com a colaboração de Gabrielli Marin, Mariana do Nascimento, Igor Caetano, Maria Letícia Nogueira, José Angelo Guarnieri, Victor Pereira, Franciele Frazoli e Ivan Hattanda.

TVC E COVID, COMO ESTUDO –  “O estudo, orientado pelo docente e um dos coordenadores da liga, Dr. Carlos Zicarelli, teve como objetivo se debruçar sobre uma das consequências raras causadas pela infecção do atual coronavírus (SARS-CoV 2): a Trombose Venosa Cerebral (TVC). Como todos sabem, a doença do coronavírus (Covid-19) foi detectada pela primeira vez na cidade chinesa de Wuhan, em dezembro de 2019. E as principais manifestações da doença se assemelham a outras síndromes gripais, cursando com febre, fadiga, tosse, dispneia, entre outros. Além disso, há estudos que evidenciam as consequências neurológicas e vasculares da infecção pelo vírus SARS-CoV 2, sendo a TVC uma delas. Definida como uma doença cerebrovascular em que há o surgimento de trombos em veias cerebrais, a epidemiologia da TVC associada ao SARS-CoV 2 ainda não é clara, mas estudos mostram que esta é uma complicação rara da Covid-19, acometendo cerca de 0,02% a 1% das pessoas com que foram hospitalizadas.

A causa mais provável dessa complicação é o a hiperinflamação que ocorre em pessoas que contraem a doença. Nesse estado imunológico, as células de defesa liberam citocinas, como interleucinas pró-inflamatórias e fator de necrose tumoral (TNF), os quais suprimem vias anticoagulantes e ativam o sistema de coagulação. Assim, favorecendo o estabelecimento de um estado de hipercoagulação e, consequentemente, a formação de trombos no interior de vasos. Além disso, há fatores clínicos que contribuem para a TVC, como a imobilização e a posição pronada, em que muitos pacientes permaneces quando estão hospitalizados. Isso porque essas condições reduzem o retorno venoso e propiciam a estase sanguínea. Contribuindo para isso, há a lesão na parede dos vasos que o vírus provoca ao invadir a célula. Dessa forma, a infecção pelo SARS-CoV 2 atua nos três campos da famosa tríade de Virchow: hipercoagulabilidade, lesão endotelial e estase sanguínea.

O quadro clínico da TVC por Covid-19 não difere da TVC por outras causas. De modo geral, há sinais de hipertensão intracraniana, cefaléia, visão turva, convulsão, déficits focais, entre outros. Ademais, estudos sugerem que a TVC atinge, geralmente, múltiplas veias cerebrais, sendo o seio transverso o mais comum. O diagnóstico é realizado pela suspeita clínica e laboratorial, seguida de confirmação por exames de imagem, essencialmente, a Angio-Tomografia Computadorizada. O tratamento é baseado em anticoagulantes e cirurgia tromboembólica. Vale ressaltar que a TVC é uma doença grave, que possui taxas de mortalidade entre 45% a 75% dos casos. Por fim, o artigo produzido por ligantes da Lanncilo, apresenta detalhes de 39 relatos de casos coletados da literatura, trazendo informações que contribuem para a visualização da TVC na prática clínica e enriquecendo a leitura do estudo”, resume o relato, o presidente da ligam acadêmico Rafael dos Santos.

 

 

O IMPACTO DO ARTIGO – Segundo Rafael, para os autores, a publicação internacional de um estudo que revisa uma literatura vale, e muito. “Atualmente, ter um bom currículo pode abrir portas para os alunos e fazer a diferença na hora de ingressar na residência médica. Nesse contexto, os autores desse artigo se beneficiaram com uma publicação internacional, que apresenta grande valor dentro do campo acadêmico e, consequentemente, do profissional. E como toda atividade científica da liga, essa publicação contribuiu para divulgar as atividades científicas Lanncilo nas universidades, além de mostrar a capacidade científica excepcional de nossos ligantes”, reforça.

“Além do que, esse estudo é importante também para médicos especialistas e/ou residentes, pois coloca em foco uma complicação rara do Covid-19, mas que apresenta altas taxas de mortalidade e que muitas vezes é subdiagnosticada. Nesse sentido, além de trazer o conhecimento epidemiológico e fisiopatológico do Covid-19, esse artigo aborda a situação clínica em que o médico deve suspeitar de que o paciente possa apresentar a TVC e como ele realiza o diagnóstico e inicia o tratamento.

 

 

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