Boletim divulgado em 27 de agosto último pela secretaria de Saúde de Londrina confirma apreensão da classe médica sobre o desafio em vencer (ou conter) a dengue na cidade, ainda antes do início da pandemia do novo coronavírus. Praticamente seis meses após a publicação do artigo da presidente da AML Dra Beatriz Tamura, intitulado (e reproduzido em post abaixo) “Os avanços das epidemias e a preocupação mundial. Mas, e o nosso comportamento diante de outro grande desafio local, a dengue?” , a SMS Londrina aponta: já são mais de 24 mil casos de dengue confirmados, outros mais de 16 mil em análise e um total de 31 mortes registradas de janeiro a 27 de agosto deste ano.
Confira reportagem da Folha de Londrina de 28 de agosto, com informações do último boletim da SMS Londrina sobre a dengue, e, na sequência, o artigo da médica Beatriz Tamura, publicado no Jornal da AML de março de 2020 e postado em 17/03/2020.
Londrina tem 24 mil casos de dengue
Londrina registra 48.465 casos notificados de dengue neste ano (2020), sendo que 24.114 se confirmaram, 5.928 foram descartados e 16.370 estão em análise, aguardando o resultado de exames laboratoriais. O boletim foi divulgado nesta quinta-feira (27/08), pela secretaria municipal de Saúde, que registra ainda 41 notificações de óbitos relacionados à dengue. Destas, 31 foram confirmadas, nove descartadas e uma está em análise.
A diretora contou ainda que os agentes também estão distribuindo sacos verdes para os moradores, a fim de estimular a separação dos materiais recicláveis. “Durante a vistoria, a comunidade recebe orientações sobre o descarte correto do lixo e outras medidas preventivas, como tampar objetos que podem acumular água, lavar corretamente o bebedouro dos animais, não deixar acumular água em lajes, manter os pratinhos dos vasos de plantas limpos e livres de água, entre outras”, apontou.
GRAVIDADE – A diretora alertou que a dengue é uma doença que continua preocupando, por isso é necessário que todos se mantenham vigilantes com os cuidados para evitar a proliferação do mosquito. “Prevenir é a melhor forma de evitar a dengue e as outras doenças transmitidas pelo Aedes, como zika e chikungunya. A maior parte dos focos está nos domicílios, por isso as medidas preventivas envolvem o nosso quintal e também o do vizinho”, frisou.
DISQUE-DENGUE – Qualquer pessoa pode fazer denúncia de imóveis ou áreas que contenham focos do mosquito, como terrenos baldios ou ambientes que possam facilitar a proliferação do vetor, pelo 0800-4001893. O atendimento é de segunda a sexta-feira, das 8 às 17 horas.
Fonte: Folha de Londrina com informações do N.Com/PML
*Post/Artigo – publicação de 17 de março 2020
Os avanços das epidemias e a preocupação mundial. Mas, e o nosso comportamento diante de outro grande desafio local, a dengue?
Artigo: Dra Beatriz Emi Tamura, médica presidente da AML e Conselheira do CRM-PR
“O avanço da epidemia do Covid-19 pelo mundo tem provocado também abalos nos mercados globais e elevado as preocupações de investidores e governos sobre o impacto da propagação do novo vírus em todas as cadeias de suprimentos, nos lucros das empresas e na desaceleração do crescimento da economia global. Um impacto na saúde pública mundial, brasileira e também na de Londrina. Cidade onde quatro casos suspeitos estão sendo investigados [Boletim Epidemiológico Sesa de 06/03/20].
Infelizmente uma preocupação real. Mas para Londrina e região uma epidemia muito mais avassaladora está se acometendo, a da dengue. A maior epidemia declarada pela Secretaria de Estado da Saúde: mais de dois mil casos confirmados da doença em Londrina e 44.441 mil em todo o Estado, com 30 óbitos no total [Sesa 03/03]. Segundo levantamento da Secretaria Municipal de Saúde de Londrina (SMS), divulgado em 5 de março, a incidência de dengue na cidade é de 328,76 casos a cada 100 mil habitantes. Ou seja, já está com quase trinta casos acima do índice considerado pelo Ministério da Saúde como epidêmico.
Mas, e o que estamos realizando enquanto cidadãos para diminuir tal incidência?
Precisamos fazer com que toda a população mude o comportamento. Esse é o grande desafio para nós, cidadãos e médicos. Precisamos nos unir e, em conjunto com o Poder Público, ajudar no combate ao Aedes aegypti com a transmissão de informações, orientações, pois estamos tratando não só da dengue mas da zika, da chikungunya… e outras mais que surgirão.
Sabemos que é também, e quem sabe acima de tudo, uma questão de educação, cuidados com a higiene pessoal e a preocupação também com a saúde do outro, com a saúde coletiva. Afinal, as pessoas não podem achar normal conviver com lixo nas ruas, pessoas jogando pelas janelas dos carros latinhas ou qualquer outro tipo de detrito, outras varrendo calçadas e jogando a sujeira para dentro dos bueiros, praças repletas de água parada, casas imensas com suas piscinas e jardins de águas paradas. Ou seja, não estamos falando em classe social. Estamos enfatizando que todos deveriam agir e dar exemplos.
A Sociedade Americana de Medicina Tropical e Higiene dos Estados Unidos, apresentou uma pesquisa do grupo internacional de pesquisadores, incluindo brasileiros. Esses cientistas infectam os insetos com a Wolbachia, uma bactéria que está naturalmente presente na maioria dos insetos, mas não no Aedes aegypti. Os cientistas descobriram que ela é capaz de bloquear a infecção do vírus da dengue em humanos. Com base nessa descoberta, resolveram modificar mosquitos dessa espécie, injetando a bactéria nos ovos. Depois, soltam os mosquitos em áreas de risco. Após sete anos de trabalho, a equipe constatou redução de até 96% nos números de casos da doença. No Brasil, os insetos modificados foram soltos em regiões com alto índice da doença, como em Niterói (RJ), em Belo Horizonte…
Essa é uma ferramenta biológica, mas precisamos unir esforços para usar o máximo possível de medidas para potencializar resultados positivos no combate a essas doenças. Mas não esquecer nunca que a medida mais importante de todas é a nossa posição na mudança de comportamento. Uma mudança para ajudar com que as futuras gerações não tenham que enfrentar doenças que se multiplicam com a contribuição da própria população.
Vamos refletir, e agir. Neste momento, essa epidemia nos atinge mais rápido do que o novo coronavírus.”
Fonte: Artigo publicado originalmente no Jornal da AML – Edição de Março de 2020