Page 14 - Jornal da AML - AGOSTO 2021
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ARTIGO






      ERROS DIAGNÓSTICOS:

      UMA EPIDEMIA SILENCIOSA



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      Médicos erram. Nenhuma surpresa, afinal
      médicos são seres humanos, e por definição,
      estão sujeitos a erros. Por mais simples e ób-
      via que seja esta afirmação, nem todos se dão
      conta desta verdade: erros diagnósticos são
      um importante problema de saúde pública.

      Estudos realizados nas últimas décadas mos-
      tram que cerca de 15% dos diagnósticos feitos
      são diagnósticos errados. Nos casos mais se-
      veros, o resultado pode ser a morte. Estima-se
      que 40 a 80 mil mortes por ano nos Estados
      Unidos sejam decorrentes de erros diagnós-
      ticos. Isso coloca os erros diagnósticos entre
      as cinco maiores causas de morte naquele
      país, à frente de acidentes automobilísticos e
      mortes por armas de fogo.
                                                  garantem impacto relativamente grande na   do curso são fundamentais para ajudar a mu-
      A National Academy of Medicine (NAM) dos    prevenção de erros diagnósticos.           dar a cultura inadequada em relação ao erro
      Estados Unidos, define erro diagnóstico como                                           e a criar um sistema de saúde mais seguro.
      a falha em estabelecer um diagnóstico cor-  A medida  de maior  proteção  dos pacientes
      reto no  tempo adequado  para um  problema   contra erros diagnósticos volta-se para o re-  Iniciativas como a fundação da Society to Im-
      de saúde ou em comunicar essa explicação    forço da educação médica. Na Medicina, pre-  prove Diagnosis in Medicine (SIDM), organiza-
      ao paciente. Uma classificação muito usada   valece a ilusão de que médicos não podem   ção sem fins lucrativos cuja única missão é a
      atualmente divide as causas dos erros diag-  errar. Talvez, por isso, ninguém fale sobre er-  redução dos danos causados por erros diag-
      nósticos em erros sem culpa (pacientes que   ros, a não ser para apontar dedos e sugerir   nósticos em Medicina, já são vistas.
      não têm qualquer sintoma, ou quando sua     culpados. Essa atitude faz dos erros diagnós-
      apresentação é muito atípica e não permite   ticos uma epidemia silenciosa. Uma cultura   Outra iniciativa que merece destaque são os
      o diagnóstico a tempo); erros de sistema (re-  muito mais adequada seria a que estimula o   eventos para conscientização e educação so-
      lacionados à organização ou serviço onde o   comportamento  oposto:  ao  ocorrer  um erro   bre o tema. Como o realizado no final do mês
      paciente está sendo atendido); e erros cogni-  (ou um quase-erro), esse evento deveria ser   de julho Londrina: o I Congresso Brasileiro de
      tivos (falhas ou limitações dos processos de   abertamente discutido entre os envolvidos,   Raciocínio Clínico. Organizado por professo-
      raciocínio do profissional médico). Também há   na tentativa de identificar as causas e criar   res do curso de Medicina da Universidade Es-
      a classificação sendo discutida mais recente-  ações preventivas.                      tadual de Londrina (UEL) em conjunto com as-
      mente relacionada aos erros de equipe (pro-                                            sociações de estudantes de Medicina de todo
      fissionais que cuidam do paciente).         Na aviação, qualquer pequeno incidente é   o Brasil, buscou promover a conscientização
                                                  discutido  obsessivamente,  e  a  adoção  de   da comunidade médica brasileira para a im-
      A boa notícia é que erros diagnósticos po-  inúmeras medidas de promoção de segu-      portância de se ensinar maneiras de pensar
      dem  ser, ao  menos em  parte,  prevenidos.   rança ao longo das últimas décadas, como o   mais seguras e prevenir erros.
      Já  está em curso, há  pelo  menos  uma  dé-  uso de checklists e a promoção da comuni-
      cada, um grande movimento mundial para      cação franca e aberta entre os membros da   Afinal, nos dizeres da National Academy of Me-
      promoção da segurança do paciente, por      equipe, fez do segmento, um dos ramos de   dicine, “buscar melhoramentos no processo
      meio de adoção de medidas como checklists   atividade mais seguros.                    diagnóstico é um imperativo moral, profissio-
      diagnósticos incorporados em prontuário                                                nal e de saúde pública”.
      eletrônico, sistemas de acesso a todos os   Mudanças na formação médica com a inclu-
      exames solicitados, e melhoria na comuni-   são de discussões sobre erros diagnósticos e   *Dr Leandro Arthur Diehl, é médico associado AML especialista
      cação junto às equipes multiprofissionais, já   segurança do paciente desde o primeiro ano   em Endocrinologia e Metabologia, docente do curso de Medici-
                                                                                             na da UEL e administrador do site Raciocínio Clínico
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