Page 6 - Jornal da AML - MAIO 2021
P. 6
HOMENAGEM AML
UM VOO DE JANELAS ABERTAS: HISTÓRIA DE UM
PIONEIRO DA ORTOPEDIA EM LONDRINA
Em livro autobiográfico, o médico Antônio Silvio Lopes narra sua trajetória de vida e os
desafios enfrentados para exercer a medicina com dignidade e responsabilidade
Pioneiro da medicina e da ortopedia em Lon-
drina, o médico Antônio Silvio Lopes, de 93
anos, esteve na sede da Associação Médica de
Londrina para cumprir uma missão especial:
entregar à presidente Beatriz Tamura, repre-
sentando todos os associados da entidade,
exemplares do livro “Um voo de janelas aber-
tas”, que narra a trajetória de vida do decano
da medicina londrinense desde que ainda era
criança em Ibitinga (SP).
Pai de dois médicos, o ortopedista Paulo
Vinícius Lopes e a pediatra Ligia Lopes Fer-
rari; da enfermeira Rosana Virginia Lopes
Sampaio e do economista e empresário Sil-
vio Linus Lopes, ele deixou o legado da saúde
também entre os netos, visto que dois deles
já são médicos e outros se enveredam por
áreas correlatas.
O nome do livro, inclusive, remonta a um
episódio da infância dos filhos: quando todos Doutor Antônio Silvio Lopes na AML, acompanhado dos filhos Ligia
foram diagnosticados com “tosse compri- Lopes Ferrari (médica pediatra), Paulo Vinícius (médico ortopedista/
perito médico) e Rosana Lopes Sampaio (enfermeira)
da”, um piloto de avião que morava vizinho
à casa deles sugeriu fazer voos de avião te- seu nome aprovado no vesti-
co-teco com janelas abertas para que o ar bular de 1952 da Universida-
frio ajudasse na cura das crianças. Antônio de Federal do Paraná.
Silvio conta que que ele e os filhos voaram A trajetória para conse-
por uma semana e a experiência de respirar guir o diploma não foi fácil.
o ar gelado ficou marcada na sua trajetória. Entre outros percalços, teve
“Foi essa a inspiração para o título.” que trancar a universidade
Escrito com apoio do jornalista Wilhan San- para trabalhar e, durante
tin, o livro foi um pedido dos filhos que que- grande parte da graduação,
riam eternizar a história do pai. A narrativa trabalhou no período notur-
envolvente e emocionante revela um perso- no da Guarda Municipal de
nagem que enfrentou desafios diversos para Curitiba. Foi na época de uni-
exercer a medicina com dignidade e respon- versitário, também, que ele
sabilidade, sem deixar de lado a alegria de conheceu o amor de toda a
viver ao lado da amada esposa Marlene e da vida: a esposa Marlene. Exemplares do livro autobiográfico foram entregues
à AML pelo autor, em encontro especialmente
família que construíram. A primeira cirurgia que re- agendado pela presidente Beatriz Tamura
alizou foi em circunstâncias
PIONEIRISMO pouco adequadas. Estudante do quinto ano Silvio Lopes por meio de um estágio na Santa
de medicina, aceitou o convite para esta- Casa de São Paulo, onde conta que aprendeu
Doutor Silvio, como é mais conhecido, che- giar em uma pequena cidade do interior do bastante sobre a profissão. Porém, interessa-
gou a Londrina nos primórdios da cidade Paraná. Num certo dia, chega ao posto de do em acompanhar casos de traumas, conse-
com o objetivo de trabalhar e conseguir fi- atendimento um menino todo roxo, à beira guiu nova oportunidade no Hospital das Clíni-
nalizar o Ensino Médio. O município, porém, da morte, quase sem conseguir respirar. cas, também na capital paulista. Das histórias
não tinha escolas neste nível de ensino, por O diagnóstico foi certeiro: crupe, que ele já dessa época, ele recorda que atendeu no PS
isso, depois de trabalhar um tempo como tinha visto acometer um sobrinho. Realizou uma professora dos tempos de primário.
bancário, ele mudou-se para Curitiba com a uma traqueostomia em cima de uma mesa Ao fim do estágio e com o Certificado de
meta de fazer o “colegial”. Foi na capital que de bilhar e salvou a vida da criança. Frequência em Ortopedia em mãos, decidiu
decidiu estudar Medicina e, para cumprir fincar raízes na crescente Londrina, onde
esse objetivo, matriculou-se no cursinho INÍCIO NA ORTOPEDIA iniciou um consultório e finalmente se casou
pré-vestibular, enfrentando uma rotina pe- com Marlene em 1961. “Ela era uma exce-
sada de estudos. Quase sem acreditar, viu A ortopedia chegou à vida do Dr. Antônio lente mãe e esposa, uma grande mulher”,
JORNAL AML | Associação Médica de Londrina
6