Janeiro Roxo: Brasil é o segundo país com mais casos de hanseníase

Em apoio à campanha Janeiro Roxo, sociedades médicas alertam para sub-diagnósticos de hanseníase, motivados por estigma e preconceito

Janeiro Roxo: Brasil é o segundo país com mais casos de hanseníase

Em Janeiro, no Brasil, celebramos o Janeiro Roxo, mês de conscientização sobre a hanseníase. A campanha chama atenção para a importância do diagnóstico e tratamento de hanseníase e faz um alerta: o estigma em torno da doença e a dificuldade de acesso ainda provocam um quadro importante de sub-diagnósticos. 

No mundo todo, o Brasil é o segundo país com mais casos de hanseníase, ficando atrás apenas da Índia. De acordo com a Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH), a falta de informação – inclusive por parte de profissionais de saúde  – é mais um dos problemas que dificultam o controle da hanseníase no Brasil.  

Na região de Londrina, o dermatologista e associado da Associação Médica de Londrina Mauro Filgueiras Mendes é uma autoridade no atendimento da doença. Ele integra a equipe da Associação Filantrópica Humanitas, centro de referência em hanseníase e outras doenças dermatológicas localizado em São Jerônimo da Serra e que atende 44 municípios de toda a região. 

“A hanseníase vem norteando a minha vida profissional há muitas décadas”, conta ele, que há 50 anos decidiu ficar no município e deu início a essa história. 

 Hoje a Humanitas é administrada pela entidade São Francisco na Providência de Deus, que reúne 17 mil funcionários e muitos hospitais no Brasil, inclusive em barcos na região amazônica.

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Dados sobre a Hanseníase

A Sociedade Brasileira de Hanseníase aponta que, anualmente, são diagnosticados cerca de 30 mil casos novos de hanseníase no país.  A SBH chama atenção, entretanto, para uma endemia oculta da doença. A estimativa é que o Brasil tenha entre 3 e 5 vezes mais casos do que apontam os dados oficiais. 

Dados divulgados pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) mostram que, em 2019, antes da pandemia da Covid-19, o Boletim Epidemiológico sobre a Hanseníase do Ministério da Saúde notificou  27.864 novos casos, equivalente a 93% de todos os casos da região das Américas e 13,7% dos casos globais registrados no ano.

O Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde publicado em 2023 sobre a doença trouxe dados preliminares sobre 2021, apontando que naquele ano o Brasil diagnosticou 15.155 casos novos de hanseníase. A queda representativa, se feita a comparação com outros anos, foi relacionada à pandemia, com fechamento dos serviços e acesso ao diagnóstico. 

Dr. Mauro Filgueiras acrescenta que no Paraná, em 2022, foram diagnosticados 400 novos casos da doença. Já na Humanitas, em 2023, foram feitos 25 diagnósticos de pessoas vindas de diferentes cidades. “Algumas formas são preocupantes por serem contaminantes”, alerta, descartando que os casos poderiam ter sido facilmente detectados por serviços de saúde. “Aproveito para reconhecer o esforço tremendo das equipes de atenção em saúde que ajudam na detecção e encaminhamento para centros de referência”, elogia.

Saiba mais sobre a hanseníase 

Filgueiras explica que a hanseníase é uma doença milenar, tendo sido citada em registros desde a Índia e Egito antigos. “É importante dizer que, desde a década de 1980, é uma doença que tem cura. Esta mensagem precisa ficar clara”, reforça. 

Ele esclarece, ainda, que contrair  hanseníase depende de combinações imunológicas específicas, por isso, a doença não afeta a todos. Em geral, são quatro formas de hanseníase: a inicial, que migra para a tuberculóide (menos grave e não contaminante) e para o pólo virchowiano, mais grave e contaminante. Entre as duas, há ainda a forma dimorfa. 

“Hanseníase é uma doença muito grave, principalmente quando tem reações reversas do grupo dimorfo e reação eritema nodosa do grupo virchowiano. Neste caso, a doença pode se tornar incapacitante e levar a sequelas estigmatizantes”, revela. 

A hanseníase é transmitida por um bacilo através de contato próximo e prolongado entre as pessoas. Como este bacilo ataca os nervos, o paciente pode perder ou ter diminuição da sensibilidade à dor, ao toque, ao frio e calor, além de apresentar manchas esbranquiçadas ou avermelhadas na pele.

Exames de laboratório não conseguem identificar todos os casos, por isso, é preciso muito preparo do médico para diagnosticar a hanseníase. Essa realidade resulta em alto número de doentes que recebem o diagnóstico apenas quando as sequelas são visíveis, irreversíveis e incapacitantes. 

O tratamento é gratuito em todo o Brasil e, lembramos: a doença tem cura.

Por Comunicação AML – Divulga e Infinita Escrita com informações da Sociedade Brasileira de Dermatologia e Sociedade Brasileira de Hansenologia

 

comunica.aml@aml.com.br

 

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