Page 10 - Revista AML - Edição de Setembro de 2022
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Bernardes,
do
membro
Conselho Regional de Medicina do
Paraná e Coordenador da Comissão
de Divulgação de Assuntos Médicos
(Codame).
Cenário preocupante
de
Antes
abordar
tema
propriamente dito, o Dr. Afrânio
Bernardes fez questão de ressaltar
um fator preponderante para a
disparada do apelo digital na área
médica: o aumento indiscriminado
das escolas de Medicina no país, em
especial entre os anos de 2017 e
2018, gerando um número hoje de
aproximadamente 35 mil vagas no
primeiro ano. Isso sem falar no
Nacional
Revalida
(Exame
de
Revalidação de Diplomas Médicos
Expedidos
de
por
Instituição
Educação Superior Estrangeira), que
segundo o coordenador registra em
torno de três mil médicos por ano.
“Se considerarmos que 80% vão se
formar nos próximos dois anos,
teremos aproximadamente 28 mil
novos médicos. Para se ter uma
noção, no Paraná temos quase trinta
mil médicos em atividade. É como se
a gente pegasse um Paraná inteiro
É inegável que o uso das mídias
de médicos e jogasse no mercado
pelos
sociais
tem
médicos
brasileiro”, compara.
aumentado de forma exponencial
nos últimos anos. Se por um lado
O coordenador do Codame atenta
esses canais viabilizam a troca de
ainda para as consequências da alta
e
informações
favorecem
oferta diante da baixa demanda de
visibilidade profissional, por outro
médicos, em especial nos grandes
existem
aspectos
também
centros. “Se a oferta de profissionais
como
negativos,
crescente
o
é maior que a demanda, as
descumprimento de normas do
estruturas médicas e hospitalares
Código de Ética Médica e do
vão contratar por preços muito
Conselho Federal de Medicina (CFM).
baixos. Então, entendo isso como
um
Para orientar os profissionais sobre a
agravante
é
do
vida
utilização ética dos meios digitais na
profissional médico, que é um pouco
divulgação do seu trabalho, a Revista
maior que a da maioria das
da AML ouviu o Dr. Afrânio Benedito
profissões, impactando em baixa
rotatividade no segmento.
procurá-lo acreditando que será
diferentes endereços de e-mail e de
YouTube,
atendido por um especialista”, explica
sociais,
redes
como
Para o Dr. Afrânio Bernardes, todo
Instagram, Facebook e WhatsApp,
Dr. Afrânio Bernardes. Ele esclarece
esse contingente de médicos deve
para uso pessoal e profissional. Nas
que, se o profissional não tem
ampliar ainda mais a utilização das
especialidade nenhuma, deve se
redes profissionais vale restringir os
mídias sociais, especialmente se
conteúdos a atividades relacionadas
apresentar apenas como médico. Ele
considerado o perfil jovem dos
não é clínico geral ou mesmo
às práticas médicas e científicas.
recém-formados, que ainda não são
Além de ético, esse posicionamento
generalista, é simplesmente médico.
conhecidos no mercado. “Essa oferta
inspira confiança no interlocutor.
“No Paraná, há três anos, tínhamos
elevada de mão de obra também
é
uma proporção de 66% de médicos
evitar
importante
Também
pode fazer com que médicos já
especialistas em relação aos não
exposição excessiva e não entrar em
mas
que
estão
estabelecidos,
especialistas. Com o aumento do
discussões. Isso evita a ação de
perdendo mercado, invistam em
número de faculdades e médicos se
haters (os odiadores virtuais, que
mídias sociais pela necessidade de
nunca estão felizes ou satisfeitos com
formando, e não tendo um aumento
chamar atenção para o seu nome, sua
proporcional das vagas de residência,
o êxito, conquista ou felicidade de
ou
figura
sua
atividade
para
vendo
outra pessoa).
número
esse
estamos
profissional”, considera.
decrescer. Hoje já estamos com cerca
sendo
médicos
dos
60%
Erros mais comuns
de
Pessoal x profissional
especialistas, e a expectativa é que
Vale esclarecer que mídias
Entre as denúncias registradas pelo
esse número diminua ainda mais”,
são
canais
de
sociais
CRM-PR a mais recorrente se refere à
informa o conselheiro do CRM-PR.
veiculação de informações. O
prática de jovens médicos que
Outro erro comum é a publicação de
principal objetivo dessas mídias é a
publicam conteúdos no qual declaram
imagens de pacientes. Não se trata
e
produção,
divulgação
ter vocação para uma determinada
somente da imagem em si, mas de
compartilhamento de conteúdos -
área da Medicina, sem, no entanto,
quando o médico se aproveita da
gratuitos ou não - permitindo a
especializados
serem
área
na
figura do paciente para mostrar
interação com diferentes públicos.
anunciada.
‘fantásticos’
ou
resultados
Nas mídias sociais as relações
“Está no senso comum do médico
tratamentos milagrosos. Esse tipo de
pessoais ficam em segundo plano.
que ele não pode anunciar que é um
comportamento,
que
beira
a
Sobre o uso das mídias sociais
dermatologista, por exemplo, se de
expõe
uma
que
autopromoção,
relacionadas ao exercício da profissão
fato não o for; mas não é senso
capacidade
supostamente
médica, Dr. Afrânio Bernardes explica
comum que ele não possa anunciar
privilegiada, seja de atuação ou
que essa prática deve estar em
que ‘atua em dermatologia’. Isso é
performance profissional, é uma
sintonia com aquilo que o médico
um erro grave porque a consequência
prática antiética.
exercita dentro do seu ambiente
anuncia
mesma.
a
Quando
é
profissional. “Por isso sugerimos que
O médico pode fazer publicidade ou
atividades de uma especialidade que
demonstração dos equipamentos nos
haja uma separação entre o pessoal e
não possui, o médico induz o
o profissional”, orienta.
A Codame, inclusive, analisa o
quais investe, seja em clínica privada Dessa forma, a recomendação é ter paciente ao erro, pois este vai a Silva problema a caótico. o útil Outro
ou em clínicas de prestação de material que esteja motivando
serviços, desde que o foco seja o dúvidas e o devolve com relativa
mecanismo da tecnologia ali rapidez, já com as considerações ou Foto: AML
empregada. “O que ele não pode é ajustes que devem ser feitos de
virar um garoto-propaganda da acordo com as normas do Código de
marca, nem usar termos que Ética Médica e do CFM.
promovam aquele equipamento,
como ‘o mais moderno’, ‘última Benefícios
geração’, ‘melhor do mercado’,
porque obviamente não há nenhum Apesar das
mecanismo de auditoria disso”, restrições éticas para a publicidade
instrui o coordenador. médica, o Dr. Afrânio Bernardes
defende que as mídias sociais são
É bastante comum também que o ótimos meios de comunicação,
médico ou clínica opte por contratar consistindo em canais extremamente
um profissional ou empresa para eficazes para a troca de informação e
produzir conteúdos para as mídias de divulgação.
digitais. Nesses casos, a orientação é “Talvez daqui a cinco ou dez anos
que o médico supervisione tudo que estejamos falando de uma forma
for produzido porque o profissional diferente de expor nossas imagens
contratado pode não ter o ou serviços, mas o que temos agora
esclarecimento ético necessário para são meios altamente eficazes de
discernir sobre o que pode ou não ser interlocução, de troca de informação
publicado. Desse modo, cabe ao e de exposição. Então essas mídias
médico esse cuidado para evitar
sanções, seja do Conselho Regional oportunizadas pela tecnologia são,
ou Federal. sim, muito viáveis, desde que se
tenha determinados cuidados para se
Orientação evitar o sensacionalismo, a alta
comoção, mas sobretudo, evitar
Os Conselhos, entretanto, não têm inverdades”, argumenta.
apenas função punitiva. No Paraná,
quando um médico tem dúvidas
sobre publicidade, pode buscar a
orientação da Codame. A Comissão
faz toda a intermediação da aplicação
da norma para que os médicos
possam publicar conteúdos de forma
ética e segura.
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