Page 8 - Revista AML - Edição de Setembro de 2022

do
profissões, impactando em baixa
rotatividade no segmento.
Para o Dr. Afrânio Bernardes, todo
esse contingente de médicos deve
ampliar ainda mais a utilização das
mídias sociais, especialmente se
considerado o perfil jovem dos
recém-formados, que ainda não são
conhecidos no mercado. “Essa oferta
elevada de mão de obra também
pode fazer com que médicos já
estabelecidos, mas que estão
perdendo mercado, invistam em
mídias sociais pela necessidade de
chamar atenção para o seu nome, sua
figura ou para sua atividade
profissional”, considera.
Pessoal x profissional
Vale esclarecer que mídias
sociais são canais de
veiculação de informações. O
principal objetivo dessas mídias é a
produção, divulgação e ter vocação para uma determinada
compartilhamento de conteúdos -
gratuitos ou não - permitindo a
interação com diferentes públicos.
Nas mídias sociais as relações
pessoais ficam em segundo plano.
Sobre o uso das mídias sociais
relacionadas ao exercício da profissão
médica, Dr. Afrânio Bernardes explica
que essa prática deve estar em
sintonia com aquilo que o médico
exercita dentro do seu ambiente
profissional. “Por isso sugerimos que
haja uma separação entre o pessoal e
o profissional”, orienta.
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quais investe, seja em clínica privada
ou em clínicas de prestação de
serviços, desde que o foco seja o
mecanismo da tecnologia ali
empregada. “O que ele não pode é
virar um garoto-propaganda da
marca, nem usar termos que
promovam aquele equipamento,
como ‘o mais moderno’, ‘última
geração’, ‘melhor do mercado’,
porque obviamente não há nenhum
mecanismo de auditoria disso”,
instrui o coordenador.
É bastante comum também que o
médico ou clínica opte por contratar
um profissional ou empresa para
produzir conteúdos para as mídias
digitais. Nesses casos, a orientação é
que o médico supervisione tudo que
for produzido porque o profissional
contratado pode não ter o ou serviços, mas o que temos agora
esclarecimento ético necessário para
discernir sobre o que pode ou não ser
publicado. Desse modo, cabe ao
médico esse cuidado para evitar
sanções, seja do Conselho Regional
ou Federal.
Orientação
Os Conselhos, entretanto, não têm
apenas função punitiva. No Paraná,
quando um médico tem dúvidas
sobre publicidade, pode buscar a
orientação da Codame. A Comissão
faz toda a intermediação da aplicação
da norma para que os médicos
possam publicar conteúdos de forma
ética e segura.
Dessa forma, a recomendação é ter
diferentes endereços de e-mail e de
redes sociais, como YouTube,
Instagram, Facebook e WhatsApp,
para uso pessoal e profissional. Nas
redes profissionais vale restringir os
conteúdos a atividades relacionadas
às práticas médicas e científicas.
Além de ético, esse posicionamento
inspira confiança no interlocutor.
Também é importante evitar
exposição excessiva e não entrar em
discussões. Isso evita a ação de
haters (os odiadores virtuais, que
nunca estão felizes ou satisfeitos com
o êxito, conquista ou felicidade de
outra pessoa).
Erros mais comuns
Entre as denúncias registradas pelo
CRM-PR a mais recorrente se refere à
prática de jovens médicos que
publicam conteúdos no qual declaram
área da Medicina, sem, no entanto,
serem especializados na
anunciada.
“Está no senso comum do médico
que ele não pode anunciar que é um
dermatologista, por exemplo, se de
fato não o for; mas não é senso
comum que ele não possa anunciar
que ‘atua em dermatologia’. Isso é
um erro grave porque a consequência
é a mesma. Quando anuncia
atividades de uma especialidade que
não possui, o médico induz o
>>>
A Codame, inclusive, analisa o
material que esteja motivando
dúvidas e o devolve com relativa
rapidez, já com as considerações ou
ajustes que devem ser feitos de
acordo com as normas do Código de
Ética Médica e do CFM.
Benefícios
Apesar das
restrições éticas para a publicidade
médica, o Dr. Afrânio Bernardes
defende que as mídias sociais são
ótimos meios de comunicação,
consistindo em canais extremamente
eficazes para a troca de informação e
de divulgação.
“Talvez daqui a cinco ou dez anos
estejamos falando de uma forma
diferente de expor nossas imagens
são meios altamente eficazes de
interlocução, de troca de informação
e de exposição. Então essas mídias
oportunizadas pela tecnologia são,
sim, muito viáveis, desde que se
tenha determinados cuidados para se
evitar o sensacionalismo, a alta
comoção, mas sobretudo, evitar
inverdades”, argumenta.
membro
Bernardes,
Conselho Regional de Medicina do
Paraná e Coordenador da Comissão
de Divulgação de Assuntos Médicos
(Codame).
Cenário preocupante
Antes
tema
de
abordar
propriamente dito, o Dr. Afrânio
Bernardes fez questão de ressaltar
um fator preponderante para a
disparada do apelo digital na área
médica: o aumento indiscriminado
das escolas de Medicina no país, em
especial entre os anos de 2017 e
2018, gerando um número hoje de
aproximadamente 35 mil vagas no
primeiro ano. Isso sem falar no
Revalida
(Exame
Nacional
de
Revalidação de Diplomas Médicos
Instituição
de
por
Expedidos
Educação Superior Estrangeira), que
segundo o coordenador registra em
torno de três mil médicos por ano.
“Se considerarmos que 80% vão se
formar nos próximos dois anos,
teremos aproximadamente 28 mil
novos médicos. Para se ter uma
noção, no Paraná temos quase trinta
mil médicos em atividade. É como se
a gente pegasse um Paraná inteiro
É inegável que o uso das mídias
de médicos e jogasse no mercado
médicos
sociais
pelos
tem
brasileiro”, compara.
aumentado de forma exponencial
nos últimos anos. Se por um lado
O coordenador do Codame atenta
esses canais viabilizam a troca de
ainda para as consequências da alta
favorecem
e
informações
oferta diante da baixa demanda de
visibilidade profissional, por outro
médicos, em especial nos grandes
existem
também
aspectos
centros. “Se a oferta de profissionais
o
crescente
negativos,
como
é maior que a demanda, as
descumprimento de normas do
estruturas médicas e hospitalares
Código de Ética Médica e do
vão contratar por preços muito
Conselho Federal de Medicina (CFM).
baixos. Então, entendo isso como
um
Para orientar os profissionais sobre a
vida
do
é
agravante
utilização ética dos meios digitais na
profissional médico, que é um pouco
divulgação do seu trabalho, a Revista
maior que a da maioria das
da AML ouviu o Dr. Afrânio Benedito
paciente ao erro, pois este vai a Silva problema a caótico. o útil Outro
procurá-lo acreditando que será
atendido por um especialista”, explica
Dr. Afrânio Bernardes. Ele esclarece
que, se o profissional não tem
especialidade nenhuma, deve se
apresentar apenas como médico. Ele
não é clínico geral ou mesmo
generalista, é simplesmente médico.
“No Paraná, há três anos, tínhamos
uma proporção de 66% de médicos
especialistas em relação aos não
especialistas. Com o aumento do
número de faculdades e médicos se
formando, e não tendo um aumento
proporcional das vagas de residência,
estamos vendo esse número
decrescer. Hoje já estamos com cerca
de 60% dos médicos sendo
especialistas, e a expectativa é que
esse número diminua ainda mais”,
informa o conselheiro do CRM-PR.
Outro erro comum é a publicação de
imagens de pacientes. Não se trata
somente da imagem em si, mas de
área quando o médico se aproveita da
figura do paciente para mostrar
resultados ‘fantásticos’ ou
tratamentos milagrosos. Esse tipo de
comportamento, que beira a
autopromoção, que expõe uma
capacidade supostamente
privilegiada, seja de atuação ou
performance profissional, é uma
prática antiética.
O médico pode fazer publicidade ou
demonstração dos equipamentos nos